segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


Poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos),
cantado por Margarida Pinto.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano Novo!

O ano novo é uma possibilidade para um começo
mesmo quando não houve um fim.
As rodas giram em uma curvatura interminável,
contudo, marcada em um ponto,
parecem balançar girando.
Cada ano que passa nós esperamos fazer mais,
melhor um pouco embora nós saibamos
que realmente nada mudou.
A razão pensa de que tudo arranjou,
assim que nós devemos sonhar e ter esperança.

Autor: Desconhecido