domingo, 11 de junho de 2006

Rocha do Mar


Já uma vila dos Açores
Loze ligeira no horizonte.
Será num alto das Flores,
No Pico ou logo de fronte,
Espraiadinha num cume
Ou encolhida em Calheta?
O ser nossa é que resume
Seus amores de pedra preta.
Para vila da Lagoa
Falta-lhe a cidade ao pé,
A distância de Lisboa
Já não me lembro qual é.
Para Vila Franca ser
Falta-lhe o ilhéu à ilharga,
É airosa pra se ver,
Mais comprida do que larga.
Povoação não me parece,
Nos padieiros não condiz,
Aos camiões estremece,
Mas não aguenta juíz .
Pra Ribeira Grande falta-lhe
O José Tavares no quintal,
Rija cantaria salta-lhe
Dos cunhais, branca de cal,
Mas não é Ribeira Grande:
Essa merecia foral!
No dia em que haja quem mande
Será cidade mural.
Nordeste - só enganada
Na vista da Ilha Terceira,
Longe de Ponta Delgada,
Sua sede verdadeira.
Nem Vila do Porto altiva,
A mais velha da fiada,
Em suas ruas cativa
Como princesa encantada.
De cimento a remendaram,
Coroaram-na de aviões,
Mas eternos lhe ficaram
Os bojos dos seus tàlhões .
Se é a Praia da Vitória
Não lhe reconheço a saia:
Enchem-lhe a areia de escória,
Ninguém diz que é a mesma Praia.
Talvez seja Santa Cruz
Da Graciosa, ou a sua Praia,
Com o Carapacho e a Luz
Cheirando a lenha de faia.
De S. Jorge a alva Calheta
Ou a clara vila das Velas,
E o alto, alvadio Topo
Com um monte de pedra preta
Dando realce às janelas.
As Lajes ou o Cais do Pico,
A escoteira Madalena
Vilas são de vinho rico,
Qual delas a mais morena.
Santa Cruz das Flores seria
Essa vila açoriana
Ou as Lajes de cantaria
Do bom Pimentel soberana.
Finalmente, só o Rosário,
Que do Corvo vila é,
Pequena como um armário
Ou um chinelinho de pé.
Mas não é nenhuma delas,
Nem Água de Pau, que o foi,
S. Sebastião, ou Capelas,
Da Terceira arca de boi
Como a nossa Vila Nova,
Que nem chegou a ser vila,
Tão branca na sua cova,
Tão airosa, tão tranquila.
Ah, já sei! É delas, fundo,
Que o muro alvo se perfila
Contra os corsários do mundo
Que invejam a nossa vila,
Nosso povo, na folia
De uma rocha de mar bravo,
Que o Guião da autonomia
Só por morte torna escravo.

Autor: Vitorinio Nemésio, 24 de Abril de 1976

4 comentários:

antonior disse...

Maria!

A minha vida tem andado num turbilhão e não arranjo tempo para visitar com assiduidade, mas cá estou!

Já me pus em dia com os posts que ainda não tinha visto.

A beleza habitual passa por todos eles...

Imagens lindíssimas, para palavras belíssimas. Gostei de ler aqui V. Nemésio, e ver a sublime fotografia marinha...

Beijinho

guida disse...

Obrigada Maria pela visita ao meu blog e pelo comentario deixado.
O teu blog esta muito bonito, diferente do meu mas muito bonito!!!!!!!
Os Açores sao realmente umas ilhas lindissimas, vou visitar-te mais vezes ja que nao posso visitar os Açores pessoalmente
um beijo

Minguinhas disse...

Olá Mamã

Tens um blog tão giro.

Beijinhos

Anónimo disse...

Ainda hei-de um dia voltar aos Açores.
Visitei a ilha de S. Miguel e a Terceira, imediatamente antes do terramoto.
Guardo gratas recordações de terras tão pacificadoras e serenas.
Beijinhoa da guida